quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Vitamina D vira "estrela" dos suplementos e abre discussões

TARA PARKER POPE

do New York Times

Pouco se sabe sobre o nível ideal de um nutriente ou os efeitos colaterais de altas doses.

Imagine um tratamento capaz de fortalecer ossos e o sistema imunológico e diminuir os riscos de doenças domo diabetes, doenças cardíacas e renais, pressão alta e câncer.

Conselho Federal de Medicina fixa normas para prática ortomolecular
Pesquisa relaciona falta de vitamina D a câncer de cólon
Vitamina D ajuda a prevenir diabetes, câncer, hipertensão e infecções

Algumas pesquisas sugerem que um tratamento tão maravilhoso assim já existe. É a vitamina D, um nutriente que o corpo produz a partir da luz do sol e que também é encontrado em peixes e leites fortificados.

Mesmo assim, apesar do potencial saudável da vitamina D, acredita-se que metade dos adultos e crianças tenha níveis abaixo do ideal da vitamina, e 10% das crianças sejam altamente carentes, segundo um relatório de 2008 publicado no "The American Journal of Clinical Nutrition".

Como resultado, médicos estão cada vez mais realizando exames em pacientes para avaliar os níveis de vitamina D e prescrevendo suplementos diários para aumentá-los. Segundo o laboratório Quest Diagnostics, pedidos de testes de vitamina D aumentaram mais de 50% no último trimestre de 2009. Em 2008, os consumidores compraram US$ 235 milhões em suplementos de vitamina D, contra US$ 40 milhões em 2001, segundo o "Nutrition Business Journal".

Mas não comece a engolir suplementos de vitamina D. A empolgação envolvendo seu potencial para a saúde ainda está muito a frente da ciência.

Dados insuficientes

Embora vários estudos estejam prometendo, há dados insuficientes de exames clínicos randômicos. Pouco se sabe sobre o real nível ideal de vitamina D, se seu aumento pode melhorar a saúde e quais são os possíveis efeitos colaterais causados pela ingestão de altas doses.

Como grande parte dos dados sobre a vitamina D vem de pesquisas observacionais, pode ser que doses altas do nutriente não tornem realmente as pessoas mais saudáveis --pode ser que as pessoas saudáveis simplesmente fazem coisas que levam ao aumento da vitamina D.

"A correlação não necessariamente significa uma relação de causa e efeito", afirmou Dr. JoAnn E. Manson, professor de Harvard e chefe de medicina preventiva do Brigham and Women's Hospital, em Boston.

"As pessoas podem ter altos níveis de vitamina D porque se exercitam bastante e se expõem à luz ultravioleta com exercícios ao ar livre", disse Manson. "Ou elas podem ter um nível alto de vitamina D porque se preocupam com a saúde e tomam suplementos. Porém, elas também têm uma dieta saudável, não fumam e fazem muitas outras coisas que mantêm sua saúde em dia".

Manson está liderando um grande estudo nos próximos cinco anos que deverá oferecer respostas a essas e outras questões. Os testes clínicos em todo o país estão recrutando 20 mil adultos mais velhos, incluindo homens com 60 anos ou mais e mulheres com 65 anos ou mais, para estudar se doses altas de vitamina D e ácidos graxos de ômega 3 de suplementos de óleo de peixe diminuem o risco de doença cardíaca e câncer.

Manson afirmou que suplementos de óleo de peixe foram incluídos no estudo porque são outro tratamento promissor que sofre com a escassez de evidências clínicas. Além disso, tanto a vitamina D quanto o óleo de peixe são conhecidos por terem efeito anti-inflamatório, mas casa um funciona de uma forma diferente no corpo, então pode haver benefícios adicionais à saúde quando se combina os dois.

Vitamina e placebo

Participantes do estudo serão divididos em quatro grupos. Um irá tomar pílulas de vitamina D e óleo de peixe. Dois vão tomar uma pílula de vitamina D, ou suplemento de óleo de peixe, e um placebo. O quarto grupo irá tomar dois placebos.

A vitamina D é encontrada por todo o corpo e age como um mecanismo de sinalização para ativar e desativar células. No mento, a dose recomendada de todas as fontes, contando alimentos e exposição solar, é de 400 unidades internacionais por dia, mas a maioria dos especialistas concorda que essa medida provavelmente seja muito baixa. O Instituto de Medicina está reavaliando diretrizes para a vitamina D e acredita-se que ele aumentará a dose diária recomendada do mineral.

Os participantes do estudo irão tomar 2.000 unidades internacionais de vitamina D3, que aparentemente é a forma mais facilmente usada pelo corpo. O estudo irá usar suplementos de 1g de óleo de peixe ômega-3, cerca de 5 a 10 vezes mais o consumo diário médio.

A dose de vitamina D é muito mais alta do que tem sido usada em outros estudos. O estudo bastante conhecido da Women's Health Initiative, por exemplo, acompanhou mulheres que tomavam 400 unidades de vitamina D e 1.000 mg de cálcio. O estudo não encontrou nenhum benefício em geral dos suplementos, embora as mulheres que tomaram suas pílulas regularmente tenham tido um risco menor de fraturar o quadril. Mesmo assim, muitos especialistas acreditam que 400 unidades é uma medida baixa demais para se obter qualquer benefício adicional à saúde.

Outro estudo, envolvendo 1.200 mulheres, observou os efeitos de 1.500mg de cálcio e 1.100 unidades de vitamina D. As mulheres que tomaram ambos os suplementos apresentaram um risco menor de desenvolver câncer de mama nos próximos quatro anos, mas os números de casos reais --sete casos de câncer de mama no grupo que tomou placebo e quatro no grupo que tomou suplemento-- foram pequenos demais para se obter conclusões significativas.

Embora consumidores possam ficar tentados a correr para a farmácia e começar a tomar 2.000 UI de vitamina D por dia, os médicos não o aconselham. Vários estudos recentes sobre nutrientes, incluindo vitaminas E e B, selênio e beta caroteno, se mostraram decepcionantes - até sugeriram que altas doses prejudicam mais do que ajudam, aumentando o risco de problemas do coração, diabetes e câncer, dependendo do suplemento.

Pessoas saudáveis

Apesar da promessa da vitamina D em estudos observacionais, pesquisas envolvendo outros suplementos mostram que é difícil documentar um benefício em pessoas saudáveis, e praticamente impossível prever danos potenciais, como observa Dr. Eric A. Klein, presidente do Glickman Urological and Kidney Institute, da Clínica Cleveland. Klein trabalhou recentemente como coordenador nacional para o Select, um estudo da vitamina E e do selênio para o câncer de próstata. O estudo parecia promissor, mas no final não mostrou nenhum benefício a partir dos suplementos e um risco potencialmente mais alto para diabetes em usuários de selênio.

"Acho que a lição que aprendemos com grandes testes com outros suplementos vitamínicos, incluindo o Select, é que não há benefício comprovado de saúde ou prevenção para suplementos alimentícios em populações com nutrição repleta, que corresponde à maioria das pessoas que entram nesse tipo de teste", disse Klein. "Faz mais sentido para mim estudar suplementos alimentícios ou vitamínicos em populações deficientes".

As pessoas com maior risco de deficiência de vitamina D são as mais velhas, as que têm diabetes ou doença renal, ficam muito em casa ou lugares fechados e têm pele mais escura. Adolescentes afro-americanos têm um risco particularmente alto, possivelmente porque, além da pele mais escura, como adolescentes eles têm menos probabilidade de beber leite ou brincar a céu aberto.

A comunidade científica continua a debater sobre o nível ideal de vitamina D. Em geral, as pessoas são consideradas como deficientes se têm níveis sanguíneo de menos de 15 ou 20 nanogramas por mililitro. No entanto, muitos médicos hoje acreditam que os níveis de vitamina D deveriam estar acima de 30. O nível ideal não é conhecido, nem se sabe em que ponto uma pessoa está recebendo vitamina D demais, o que pode levar a pedras no rim, calcificação em vasos sanguíneos e outros problemas.

Os níveis de vitamina D das pessoas são influenciados pela cor da pele, pelo local onde vivem, quanto tempo elas passam a céu aberto e pelo seu consumo de peixe e leite. Para aumentar o nível de vitamina D sem suplementos, uma pessoa poderia aumentar sua exposição ao sol para 10-15 minutos por dia. Comer mais peixe também pode ajudar --uma porção de 99g de salmão fresco tem de 600 a 1.000 UIs de vitamina D,-- mas seria necessário tomar um quarto de galão de leite por dia para obter a dose recomendada de vitamina D.

"O que nós sabemos é que há muitas pessoas com carência de vitamina D com base em estimativas de pesquisas nacionais", disse Dr. Michal L. Melamed, professor assistente de medicina da Faculdade de Medicina Albert Einstein, no Bronx. "Mas não sabemos o que acontece quando a curva vai para o outro lado. Provavelmente há um risco de se ter vitamina D em excesso no corpo."

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O ranking do ácido fólico

O nutriente ganha notoriedade por afastar males como o infarto, o câncer e o Alzheimer.
SAÚDE! traz em primeira mão uma lista elaborada pela Universidade Estadual de Campinas com as melhores fontes dessa supervitamina
por Regina Pereira | design Adriana Nakata | fotos Dercílio
B9, folato, ácido fólico não importa a denominação. Essa vitamina do complexo B desperta cada vez mais a atenção dos cientistas só no MEDLINE, biblioteca virtual que reúne estudos de todos os cantos do mundo, há registro de 11 071 citações sobre o nutriente. Ele também está na mira de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, que fica no interior paulista. A equipe da farmacêutica bioquímica Helena Godoy vem analisando há oito anos os teores de folato de uma série de alimentos. O objetivo é determinar as melhores fontes da vitamina, que afasta até a depressão. SAÚDE! revela com exclusividade os primeiros resultados dessa lista. E surpresas não faltam.

Além dos cogumelos, que encabeçam o rol, os estudiosos se espantaram com a quantidade de folato encontrada no tomate e em seus derivados. "Os frutos mais ácidos são os que têm maiores teores da vitamina", revela Helena. Pode ser mais um truque da natureza: a acidez ajuda a proteger o nutriente, evitando sua degradação. Aliás, por isso mesmo não se trata de mera coincidência o ranking de folato conter alimentos ricos em vitamina C, outra substância ácida.

Se a natureza cuida muito bem de sua parte, temos que fazer a nossa também. Isso porque o ácido fólico é frágil e num piscar de olhos pode desaparecer do alimento, principalmente se a comida não for manipulada direito. Assim, não importa se o espinafre está lotado da vitamina. Se ficar tempo demais na panela, lá se vai boa parte de sua riqueza. "Há perdas de 70% de folato", calcula Helena. Para a cientista, o melhor seria comer quase tudo cru. Mas, convenhamos, não dá para encarar um brócolis que não foi cozido. "Preparar no vapor e rapidamente é a melhor saída para segurar o nutriente", ensina.

Outra dica de Helena Godoy é dar preferência aos vegetais orgânicos. "Verificamos que eles concentram mais ácido fólico", afirma. Existem suspeitas de que os agrotóxicos alteram a produção de substâncias nas plantas, que, por essa razão, acabam menos nutritivas. E ninguém quer perder nenhuma pitada da vitamina, não é mesmo?


CERVEJA, A NÚMERO 1?

Em apenas um copo da bebida há mais de 900 microgramas de folato, ou seja, mais que o dobro do que é recomendado diariamente pelos especialistas. Você deve estar perguntando a razão pela qual ela não está no topo do ranking. "É que a presença de álcool atrapalha a absorção da vitamina", lamenta a farmacêutica bioquímica Helena Godoy, da Unicamp. Desse modo, é impossível precisar quanto dela é aproveitada pelo nosso organismo depois de sorver um loira bem gelada. O que torna a receita da cerveja tão rica no nutriente é a mistura de ingredientes ricos em folato, como a cevada e o lúpulo. Para completar, o processo de fermentação aumenta o número de microorganismos produtores de vitaminas do complexo B.

Dos 11 071 artigos citados no MEDLINE, diversos trabalhos tratam relação entre o folato e a anemia. Aliás, foi por isso que o nutriente já se chamou BM. Explicando: o B se refere complexo B, que é um grupo de vitaminas, e o M vem de macaco. A designação se deu quando cientistas americanos, lá pelos idos de 1931, observaram que um grupo de símios andava sem pique. Estavam anêmicos. Os pesquisadores sanaram o problema ao incrementar o cardápio dos animais com fontes de folato. Entre outras funções, o nutriente participa da formação hemácias, os glóbulos vermelhos. falta dele o oxigênio não circula como deveria", diz o nutrólogo Celso Cukier, do Instituto de Metabolismo e Nutrição, em São Paulo.

As gestantes, fortes candidatas a se tornarem anêmicas, têm que redobrar a atenção. "Na gravidez é como se o sangue ficasse mais diluído, por isso aumenta a tendência ao problema", diz o médico Rubens Gonçalves Filho, coordenador da equipe de ginecologia e obstetrícia do Hospital e Maternidade São Luiz, na capital paulista.


CÉLULAS MULTIPLICADAS

Por falar em grávidas, sempre que o assunto é ácido fólico o primeiro benefício que vem à cabeça de muita gente é a prevenção de malformação fetal. "Sua mais importante atuação é, sem dúvida, no desenvolvimento do feto", declara o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, Abran. A vitamina é capaz de barrar danos ao sistema nervoso que podem causar paralisia e problemas mentais. Estima-se que uma em cada 700 crianças brasileiras apresente doenças relacionadas à falta de ácido fólico durante a gestação. O ideal seria toda mulher em idade fértil consumir doses generosas de suas fontes, em vez de se entupir da vitamina só ao descobrir que está grávida. "É importante que os níveis de folato sejam satisfatórios desde a fecundação, quando as células do embrião começam a se multiplicar", observa Rubens Gonçalves. Afinal, o ácido fólico tem papel fundamental na divisão celular.

Aliás, isso também esclarece em parte sua atuação na prevenção do câncer, principalmente o de cólon, o de bexiga e o de pulmões. Sem contar que o folato ajuda a baixar os níveis de homocisteína. Essa substância está por trás de inflamações que podem lesar a parede de órgãos como o intestino, segundo um trabalho da Universidade de Grenoble, na França. A homocisteína também é culpada por infartos, derrames e males degenerativos como o Alzheimer, como mostra um estudo da Universidade Orsola- Malpighi, em Bolonha, na Itália. "O ácido fólico se liga à homocisteína e a transforma em uma outra molécula que é incapaz de trazer danos", explica Helena Godoy, da Unicamp.


QUEM PRECISA DE DOSES EXTRAS

"Pílulas de folato só devem ser consumidas depois de uma rigorosa avaliação", opina a nutricionista Márcia Vítolo, da Universidade Vale do Sinos, no Rio Grande do Sul. Mas um grupo que precisa de suplementação é o das gestantes. "A recomendação é de 600 microgamas por dia", diz a nutricionista Denise Mafra, da Universidade Federal Fluminense no Rio de Janeiro. Muitos médicos começam a suplementar as pacientes quando elas relatam a intenção de engravidar. Porque hoje se sabe que o ideal seria manter excelentes níveis dessa vitamina uns três meses antes da fecundação.


UÉ, CADÊ O FEIJÃO?

Embora ainda não esteja no ranking da Unicamp, a turma das leguminosas não pode faltar no seu prato. No seleto grupo temos a ervilha, o feijão, a lentilha e o grão-de-bico. Já está comprovado que eles são importantes fontes de ácido fólico. Para ter uma idéia, em uma concha de feijão-preto somam-se 119 microgramas da vitamina. "Em breve chegaremos ao valor exato", adianta a farmacêutica bioquímica Helena Godoy. Outros alimentos que contêm o nutriente são os pães e os biscoitos. Isso porque, desde 2002, há uma lei que determina que as farinhas de trigo e de milho sejam enriquecidas com a vitamina. Repare no rótulo.

Fonte:

http://saude.abril.com.br/edicoes/0270/nutricao/conteudo_118690.shtml